Boletim de Notícias e Memórias de Ritápolis – MG | nossa antiga Santa Rita do Rio Abaixo
“Meu orgulho é ser ritapolitano (…)
Tiradentes é meu conterrâneo…
o maior herói do Brasil”
Esses versos retirados do Hino da cidade de Ritápolis, nos revela o quanto seu povo tem orgulho de dizer que em suas terras nascera o inconfidente Tiradentes.
Hoje, 21 de abril, é o feriado nacional que homenageia este ilustre ritapolitano. Sim, ritapolitano. Nascido na Fazenda do Pombal, hoje em terras ritapolitanas, àquela época Santa Rita do Rio Abaixo, ou somente Santa Rita.
Fazenda localizada no Arraial, que hora pertenceu ao termo da Vila de São José (hoje a cidade de Tiradentes), hora ao termo da Vila de São João Del Rei, mas que sempre fora terras pertencentes à Santa Rita, hoje Ritápolis.
O alferes da Sexta Companhia do Regimento de Cavalaria Regular da Capitania de Minas Gerais, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, declara-se natural do Pombal quando perguntado em seu depoimento aos Autos da Devassa relativa à Conjuração Mineira:
E sendo perguntado como se chamava, de quem era filho, de onde era natural, se tinha alguma ordem, se era casado, ou solteiro, e que ocupação tinha // Respondeu que se chamava Joaquim José da Silva Xavier, filho de Domingos da Silva dos Santos, e de sua mulher Antônia da Encarnação Xavier, natural do Pombal, termo da Vila de São João Del Rei, Capitania de Minas Gerais…[1]
O dito Pombal, é uma fazenda que segundo pesquisas realizadas pelo engenheiro agrônomo Adherbal Malta, guardião da fazenda entre 1964 e 1975, “fora construída em 1719 após uma concessão pela Coroa Portuguesa, ao Capitão-mor Francisco Viegas Barbosa, na medida de uma quadra de sesmaria ou “hua légua de terras em quadras”, que, segundo essas medidas antigas, corresponderiam hoje a 4.356 hectares, 43,56 km², ou ainda 900 alqueres de 4,84 há cada”.
No testamento e inventário da mãe de Tiradentes, Antônia da Encarnação Xavier, é declarada a Fazenda do Pombal como pertencente ao termo da Vila de São José, onde leia-se:
(…) nesta Vila de São José onde nos achamos Domingos da Silva dos Santos com minha mulher Antônia da Encarnação Xavier moradores que somos no Rio Abaixo no nosso sítio chamado Pombal, Freguesia e Termo desta vila (…)[2]
As paragens de Santa Rita do Rio Abaixo, desde o início da ocupação do território da Comarca do Rio das Mortes, sempre foram disputadas pelas primeiras vilas da região, São José e São João Del Rei, havendo diversos documentos históricos que relatam seu pertencimento tanto a São José como a São João, em uma mesma época. Há documentos também que relatam essas terras incorporadas à Paróquia da Lage (Hoje cidade de Resende Costa).
E essa disputa continua no século seguinte, quando podemos ler nas Leis Mineiras, o Distrito de Santa Rita em 1852 sendo desmembrado da Paróquia da Lage e pertencendo à Paróquia de São José[3]. E poucos anos depois, em 1858, incorporado ao município de São João Del Rei[4].
E ainda no Dicionário Geográfico do Império do Brasil, de 1845, é descrito o seguinte:
“Santa-Rita-de-Rio-Abaixo. Povoação da província de Minas Gerais, na margem direta do rio das Mortes, perto de sua junção com o rio Grande. Sua igreja, dedicada à Santa do seu nome, foi desanexada da parochia da villa de São-João-d’ElRei, por decreto da assemblea geral de 14 de julho de 1832, e anexada à matriz da freguesia de Ibiturúna”.[5]
Dadas as disputas pelo pertencimento das terras que incluem a Fazenda do Pombal, fato é que essas terras sempre estiveram dentro dos limites territoriais denominadas como arraial de Santa Rita ou Arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, como era chamado à época, limites hoje que são os mesmos do município de Ritápolis, que fora emancipado em 1962.
A Fazenda do Pombal hoje é parte da Floresta Nacional de Ritápolis – FLONA-Ritápolis, onde se localiza um escritório local do iCMBio – Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, e está tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, desde 1937, e as ruinas de parte da antiga Fazenda Pertencente à família de Tiradentes se encontram no local e abertas à visitação.
[1] Autos da devassa relativa à premeditada conjuração de Minas Gerais de 1789. O Documento original por ser lido no link: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1289278/mss1289278.pdf
[2] Testamento e Inventário de Antônia da Encarnação Xavier, abertura em 01/12/1755, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo LXX, ano 1908, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, folhas 285 a 323.
[3] Lei Mineira nº 576, de 05 de maio de 1852. Artigo 2º. Parágrafo 3º. Leia-se: “Ficam pertencendo: à Paróquia da Vila de São José Del Rei, e desmembrados da Paróquia da Lage, os distritos de Santa Rita, e da Capela dos Mosquitos com suas respectivas divisas”.
[4] Lei Mineira nº 891, de 04 de junho de 1858. Ementa: “desmembra do município de São José Del Rei e incorpora ao de São João Del Rei a freguesia de Santa Rita do Rio Abaixo.
[5] Saint-Adolphe, J. G. R. Milliet de. Dicionário, Geográfico, Histórico e descritivo do Império do Brasil. Tomo II. Pag. 501. Pariz, 1845.
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